Há uma grande probabilidade de já teres ouvido falar da Refood. Trata-se de uma organização que visa, simultaneamente, evitar o desperdício alimentar e ajudar famílias com carências alimentares. Como é isto conseguido? Apenas com trabalho voluntário, recolhendo os excedentes nos restaurantes/cafés/pastelarias/supermercados das redondezas e distribuindo-os pelas famílias que necessitam dos mesmos.
Sou voluntário na Refood Braga desde 2015, desde o 1º dia que esta organização foi para o terreno na minha cidade-natal. Por essa altura, senti que devia fazer mais pela comunidade. Não fazia sentido “assobiar para o lado” enquanto pessoas com quem me cruzava diariamente passavam dificuldades que, afortunadamente, não me batiam à porta. Como escolhi a Refood entre várias outras organizações? Acabou por ser uma questão de identificação pessoal com a causa e, também determinante, compatibilidade horária com a minha atividade profissional.
Pois bem, se nessa altura achava que apenas ia fazer uma atividade não remunerada e que ia, do alto do meu pedestal de vida sem grandes sobressaltos, “ajudar quem mais necessitava”… hoje digo que as coisas não foram bem assim. Hoje digo que ser voluntário da Refood foi e continua a ser uma atividade altamente remunerada. Não em dinheiro, mas em ensinamentos e outras valias, recebidas quer de outros voluntários, quer dos próprios beneficiários do projeto. São essas valias que a Refood me trouxe, e que acredito me tornaram mais completo enquanto pessoa e profissional, que partilho convosco nas próximas linhas:
Ser mais empático. Passamos a vida a correr, com os dias muito ocupados, exigindo tudo de todos sem sequer nos lembrarmos que todos nós temos os nossos problemas. Enquanto estamos a fazer as duas horas semanais de voluntariado na Refood, abrandamos dessas nossas vidas, interagimos com pessoas que têm um problema tão grande e básico como não ter o que comer. Procurei tentar perceber as dificuldades dos beneficiários, ouvi-los, e agir com eles da forma mais adequada possível. Uma atitude que tento sempre ter, em todos os contextos.
Manter os pés na terra. Ouvimos histórias de vida de alguns dos beneficiários, pessoas que tinham vidas e famílias completamente estruturadas e “normais”, com habilitações e empregos como os nossos, e estão agora a precisar de ajuda para poderem fazer as simples refeições diárias. Como não pensar que um dia podemos ser nós? Comecei a ter a perceção que a minha vida sossegada e estável poderá não ser eterna e que, um dia, poderei ser eu a precisar de ajuda. A sobranceria não me traz vantagens hoje e não trará certamente numa situação de dificuldade.
Trabalhar em equipa. Na Refood és apenas uma pequena peça de uma grande máquina. São centenas de voluntários durante uma semana, dezenas todos os dias. Tarefas de recolha de alimentos, armazenamento, empacotamento e distribuição, mais as atividades paralelas como a limpeza do Centro de Operações. É preciso que exista uma boa organização e que cada um dos voluntários saiba o seu papel, o faça com responsabilidade, para que no fim do dia o objetivo de levar a comida às famílias seja um sucesso.
Amigos para a Vida. A Refood é uma organização de pessoas e para pessoas. Ainda hoje, mais de 6 anos depois de começar a fazer voluntariado na Refood Braga, fico impressionado com a colaboração alegre, disponível e despretensiosa entre voluntários com idades “dos 8 aos 80”, com habilitações desde o ensino básico até ao doutoramento, com as mais diversas profissões e diversos credos. Todos naquele espaço, a ajudarem-se mutuamente, por um motivo maior. Não é por isso de estranhar que neste tempo tenha feito amizades e criado relações fortes com vários voluntários, que são agora amigos, e que são parte sempre presente na minha vida em contextos fora do voluntariado.
Por: Luís Ferreira